quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Ambivalência.

O silêncio da noite é uma faca de dois gumes, as vezes nos remete
a uma sensação de liberdade, as vezes é uma prisão.
Surgem esses redemoinhos de pensamentos sem muita coerência,
e acabam por se tornarem apenas segredos mentais.
Talvez a subconsciência seja nossa 'cache', e difícil de ser limpada,
lá estão todos nossos mistérios que não queremos solucionar.
Uma guerra religiosa, nova ameaça nuclear, um garoto confuso e armado
na sua escola, aquela garota em que você não para de pensar, o
trabalho da faculdade, mendigos na calçada, o tédio.
Now's time for your tears.
Será que eu realmente preciso seguir algo?
escolher algum caminho, andar nos trilhos...
Não duvidar é tão mais fácil, torna tudo mais simples, pegar
uma canoa e se lançar no mar, sem velas, sem remos.
Eu deveria ser um revolucionário? quem sabe ser leal e disciplinado...
Anarquista, comunista, nazista, democrata, republicano.
Ser sociável ou anti-social. Extrovertido ou introvertido?
Now's time for your tears.
Talvez eu devesse ser cego e tocar piano, ou usar uma cartola e
tocar guitarra. Quem sabe fumar charutos e ser psicanalista,
trançar os cabelos e ser hippie.
Um dia me sinta solitário demais e encontre conforto
em Jesus, ou veja o mundo caótico demais e vá me isolar em um
mosteiro encontrar tranquilidade.
Now's time for your tears.
Querendo sair e encontrar os amigos em um bar, dançar e conversar.
Ficar deitado em uma rede na sacada lendo um livro, ligar a TV e assistir novela.
Jogar futebol, sentar em um canto e desenhar.
Ir a praia ou jogar video-game.
Now's time for your tears.
Acordar as 6 horas da manhã e ir caminhar no bosque.
Beber a noite toda e desmaiar na cama.
Now's time for your tears.
Até não restar mais tantas opções...
Now's time for your tears.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Abstrato.

 A cidade das luzes ofuscantes.
 Ainda me surpreendo quando encontro ocasionalmente alguém vivendo seu sonho.
Mesmo acordados, teimam em simplesmente não abrir os olhos. A ignorância é
é quase uma dádiva, permitindo viver sem se ferir, sem ter medo.
 Tenho andado um tanto reservado, como quem espera uma festa chata ficar legal.
Não importa. Por mais que tenhamos perdido completamente a fé sempre há um
pouco de uma esperança ridícula demais para ser confessada.
Mas um bom jogador sempre deve ter uma boa desculpa.
Já é preciso um certo esforço e uma dose de boa vontade misturadas com álcool,
assim é possível sobreviver a um momento de "cair na real".
Amigos, desconhecidos, parentes, pessoas e mais pessoas.
 Sempre espero algo de novo no meio de uma generalização,
mas quando percebo que se deixam ser somente tijolos em uma parede...
se permitem serem padronizadas, feitas sob medida, isso me deixa puto.
Perco o fôlego e todo o tesão na vontade de conhecer.
Repetindo gestos, gírias, tudo parece se tornar uma grande modinha no senso comum.
Caí no meu patético desligamento. Muitas vezes, diante de seres humanos
bons e maus igualmente, meus sentidos simplesmente se desligam, se cansam,
eu desisto. Sou educado. Balanço a cabeça. Finjo entender, porque não quero
magoar ninguém. Este é o único ponto fraco que tem me levado à maioria das
encrencas. Tentando ser bom com os outros muitas vezes tenho a consciência
reduzida a uma espécie  de "faz-de-conta".
 Deixa pra lá. Meu cérebro se tranca. Eu escuto. Eu respondo. E eles parecem
broncos demais para perceber que eu não estou mais ali.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Degraus

Descendo a escada...
Ouço longe uma voz, um clamor..
Chega ao meu ouvido quase como um sussurro ofegante.
São quase 5 horas da manhã e eu só queria tomar um copo d'água.
Mas não pude deixar de perceber aquele ruido...
Descendo os degraus fica mais bizarro com a escuridão.
Não sinto medo, parece até engraçado um grito na madrugada.
E continuo descendo, tentando não escorregar e cair de uma vez só,
não ligo a luz, gosto de me aventurar e desafiar cada degrau.
Gritos se misturam entre gargalhadas e canções.
Já nem parece tão estranho, de repente já me vejo querendo estar lá.
Só quem desce uma escada sabe o quanto é fácil e convidativo.
A vontade de acelerar de vez, seja por curiosidade, ânsia de chegar logo ou
só por diversão de se jogar aceleradamente.
E quando me vejo cada vez mais próximo acelero os passos.
"É na sala, isso só pode vir da sala, qualquer ocasião caseira começa na sala."
Corri pra sala, tropeçando em cada móvel que havia pela frente.
Nem quis saber se estava tudo completamente escuro.
Somente a luz do vizinho que invadia a casa pelo portão de vidro na frente.
Então um ultimo suspiro seguido de silêncio, nada além de silêncio.
Só o espelho na parede me encarando mesmo sem que eu olhasse em seus olhos
eu sabia que estava me encarando...
Só quem já subiu uma escada sabe o quanto é chato ter de voltar...