domingo, 30 de outubro de 2011

Além do que se vê.

"No presente a mente, o corpo é diferente.
E o passado é uma roupa que não me serve mais...."
Mas então você me pergunta pela minha paixão, digo que estou encantado
com essa nova invenção, eu quero ficar nessa cidade.
Eu sei disso pela ferida viva no meu coração.
Já faz tempo eu vi você pela rua, se movendo com o vento.
Indo para algum lugar e lugar nenhum, encontrando e se perdendo.
Na parede da memória, essa lembrança é o quadro que me dói mais.
Por isso cuidado meu bem, há perigo na esquina, nada está a nosso favor,
o sinal quase sempre está fechado para nós que somos tão jovens.
Nem sempre viver parece melhor que sonhar, e o amor deveria ser uma coisa boa.
Seguir em frente, realmente é preciso, você diz que nós não temos futuro e eu concordo.
Mas ainda estamos no presente, desafiando o tempo, as pessoas... tudo.

Quando amo, quase sem querer devoro todo meu coração.
Digo que te amo, grito que te odeio no mesmo fôlego.

E se você quer saber, eu começaria tudo outra vez se preciso fosse.
Enquanto estivermos, nada foi em vão.
Então eu cantaria, como cantei e cantarei só para afastar o silêncio.
Tenho ou um dia terei, fé no que virá.
A alegria de poder olhar para trás e ver que voltaria tudo outra vez.
Mais uma vez, recomeçar.

*
(adaptação: belchior-velha roupa colorida, como nossos pais; chico buarque -baioque; começaria tudo outra vez)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Vantagens.

Por quê amor?
As pessoas são de natureza insuportável, chatas, estranhas e por vezes assustadoras.
Cada um nasce e é criado de uma forma diferente, por mais normal que pareça.
Logo reconhecer um ser que você não cresceu junto ou que
nem sabia da existência até 10 anos ou 10 minutos atrás é algo incomum.
Pensar enquanto sorri de felicidade por sentir-se completo cada dia mais.
Estar mais do que satisfeito, por nem sequer fazer questão do lugar,
da hora e por qualquer motivo, do mais complicado ao mais simples, torna-se natural.
Quando isso tudo torna-se comum e sem se tornar chato e entediante.
E que as vezes nos deixa mal mas sempre acaba nos motivando.

Por quê amar?
O mundo é um lugar selvagem, nada é como a gente gostaria.
Viver é muitas vezes mais questão de improviso do que
vontade própria, seguir algo pensado e planejado antes.
Ai alguém aparece e você estranhamente sente-se bem
com aquela pessoa, de repente parece até que o mundo
é uma casa antiga, que parece feia mas tem muitos lugares
para conhecer e você fica curioso, de repente é bom estar vivo.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Na superfície.

Todas essas pessoas indo e voltando para o mesmo lugar,
olhando pro nada e achando tudo, como quem está implorando por qualquer coisa.
Aceitando qualquer trocado por um sorriso, uma migalha de alegria.
Comentando a novela, falando sobre carros novos, questionando o modo de vida.
Se perdendo no meio de tanta coisa mesmo sem nenhuma novidade.
Queria poder entender como é viver com tudo e sem ter nada.
Tenho pena e nojo, queria poder ajudar, mas quem sou eu para apontar erros?
Para elas é tudo tão simples, tão fácil e elas são tão fáceis que perdem toda a graça.
Por que se vender tão barato? o desespero de perceber um vazio?
Talvez a carência seja algo insuportável, o silêncio é apavorante, a solidão.
Bom eu não preciso encontrar, também não quero perder, tudo é uma questão
lógica, basta ter saco pra encarar uma realidade boba.
Mas elas preferem viver mascaradas... preferem usar fantasias...
Fico pensando se quando olham no espelho ainda são capazes de reconhecerem-se.
E será que eu tenho que me adaptar a esse sistema? será que devo aceitar?
Ser feito de idiota e me fazer de idiota só pra estar no seu convívio social?
Quando irão perceber que quanto menos esforço menor o reconhecimento?
As vezes acho que só existo de verdade quando estou sentado na minha sacada,
atrás da fumaça do cigarro, com o rosto escondido entre as garrafas.
O resto do mundo parece apenas uma doce ilusão que me permito acreditar,
na possibilidade de em algum lugar encontrar as coisas que imagino existir.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Acordar


Lá estava, lendo algo sobre se encontrar é se perder em alguém.
Eu estive perdido, em mim mesmo.
Em meus pensamentos que tomavam o controle quando eu preferia ficar quieto.
Deixei as coisas passarem enquanto me tornava cada vez mais abstrato.
Vi aqueles rosto felizes e tristes... por que essa mudança de humor tão acelerada?
Comecei a me questionar sobre o que eu era, sobre o que sou ou o que serei.
Não que eu tenha uma resposta pra isso, só precisei conversar comigo mesmo.
E nem precisei buscar explicação, só precisei me perguntar umas coisas.
Não cortei o cabelo nem comprei roupas novas.
Sei lá, resolvi acordar, resolvi simplesmente acordar.
Sai de casa e fui dar uma volta na praia e deixei a porta aberta.
Respirei o ar e sujei os pés na areia, andei de olhos fechados e ri sozinho.
Quando voltei os móveis ainda estavam lá, tudo no mesmo lugar.
Era eu, eu tinha mudado, não era mais o mesmo que saiu pela porta antes.
Decidi me levantar do canto da sala e me levar pra viver.
Mudei o modo de ver as coisas que passavam diante dos meus olhos.
Isso fez toda a diferença.
Não adianta querer matar ou criar algo novo pra me sentir feliz.
Bastou transformar, como um boneco de massinha que me permita dar
a ele várias formas, eu virei de repente um boneco de massinha.
Moldado por mim mesmo, com base no que via e no que sentia.
O amor verdadeiro se tornava a paz que sentia dentro de mim.
Decidi tirar as pedras que iria atirar no cachorro que se aproximava
e decidi apostar corrida com ele.
Decidi não pegar o guarda-chuva e fui tomar um banho ao ar livre.
Decidi não agradecer por estar vivo e quis viver.
Eu tenho essa vida e a usarei para crescer, quem eu era antes já nem consigo lembrar.
Que as noites permitam que eu me sinta caindo no chão em segurança.
As luzes se apagam, só eu e minha alma nova.