quarta-feira, 8 de junho de 2011

Terceira Pessoa

Todos nós temos nosso calcanhar de aquiles, o ponto fraco.
Por mais forte que tentamos parecer, no fundo algo nos afeta em cheio.
É verdade que somos feito de carne, e temos que viver como se fôssemos de ferro.
Alguns remediam isso com o lado espiritual, outros com o lado carnal.
Cada um a sua maneira, uns bebem para esquecer outros para lembrar.
Ele buscava ambos, como se podesse sorrir em meio a desgraça.
Se escondia em mistérios subentendidos e risos fáceis.
Enquanto o próximo copo surgia mais convidativo que o anterior.
Acendia um cigarro, como se a fumaça fosse levar embora sua dor.
Sóbrio, cada lembrança era um golpe de navalha, ele só deixava sangrar.
Entorpecido, era como ler um drama, que ironicamente era parecido com sua vida.
Embriagado não precisava fugir de nada, aceitava, ria e chorava, e depois passava.
Era como se tudo ficasse mais romantico e menos autodestrutivo.
Fechar os olhos era mais fácil, e era isso que ele buscava naquele bar, um descanço.
Domingo ir a igreja para ouvir umas palavras de conforto, e então pensar que
alguém sofreu mais que ele, para mostrá-lo que nada vem sem esforço algum.
Esse pensamento rondava sua cabeça, de repente sua dor era insignificante.
Até vir a segunda-feira, e sua rotina voltar a massacrá-lo ferozmente.
Em meio a suor e esforço, aquele sorriso vinha em sua mente, mais uma vez ele
fraquejava, e sentia um peso no peito, o peso de não poder suportar isso.
Não era uma simples questão, nem uma questão de vida ou morte, isso era
complicado demais para se encaixar em qualquer quesito.
Dilemas como a mente e o corpo, o divino e o humano, o "certo" e o "errado".
Ele não sabia o que fazer, e essa impotência era que o findava.
Jurava para sí mesmo que se soubesse como, já o teria feito sem refutar.
Precisava aliviar sua dor, então qualquer corpo feminino sem rosto era bem-vindo,
só alguém que substituísse o cigarro, a bebida ou o sermão do padre na sua cabeça,
nada mais, usava e era usado, para uma perspicaz amnésia.
Sabia que esquecer era difícil demais, quase dois anos de tentativas frustadas.
Sua mágoa era perceber que sentia falta até do que jurava não gostar, tudo faltava.
Observava o mar, onda por onda a bater na areia, o tempo passava dessa forma.
Ela havia passado dessa forma, como uma onda, que agora se transformou em um
rio cheio de correnteza, quase impossível de se mergulhar.
Achou que isso deveria ser o tal amor, do qual ouvia muito se falar.
E isso só piorava as coisas para ele, que nessa altura chegou a pensar:
"A diferença entre gostar, estar apaixonado e amar, é a mesma diferença entre
agora, por enquanto e para sempre."
Todos nós temos nosso calcanhar de aquiles, o ponto fraco.

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